BIOGRAFIA
Antonio Jader Pereira dos Santos, o Dim Brinquedim, é um artista brincante brasileiro. Nasceu em 26 de fevereiro de1967, em Camocim, Ceará.
Dim Brinquedim cresceu em um meio comunitário onde dividia espaço com seus irmãos, pais, avós, outros adultos, e muitas crianças. Tinha livre circulação entre as diversas oficinas de parentes e vizinhos, moradores do seu bairro, o Cruzeiro.
Acompanhar a pavimentação das ruas, a confecção de mosaico, tijolos, móveis e rede de tucum; assistir a apresentação do mamulengueiro Zezinho do Gás; ajudar a mãe na confecção de flores; assistir os espetáculos musicais do clube do Cruzeiro, e a encenação do boi do Mestre Cambraia, eram atividades que o instigavam. E, sua primeira iniciativa diante de uma nova descoberta era a reinvenção da experiência. Esse empenho o impeliu a estudar os mecanismos dos movimentos e as técnicas de junções de objetos. E para concretizar seus achados tinha disponíveis as ferramentas do seu avô João Pereira.
Dim usava as ferramentas do avô carpinteiro para fazer brinquedos (...) Atento a tudo, impressionava-se com os espetáculos que a rua oferecia. (...) A habilidade, exercitada nas atividades artesanais desempenhadas em família, dava concretude a imaginação do menino, em quase tudo parecido com os outros. Mas o investimento fantasioso que Dim sempre foi capaz diferenciava-o, desde pequeno (FREIRE, 1999, p.20, 21).
As sobras das oficinas de seus parentes e os materiais disponíveis na realidade circundante foram a matéria prima de suas primeiras invenções. A cada dia surgiam novos objetos: com uma roda de um velocípede velho, Dim inventou um tear, com uns talos de coqueiro confeccionou um mamulengo, com umas latas de querosene fez uma bateria de percussão. Com seu tear ele tinha liberdade de experimentar tecer como sua avó. Com seu mamulengo ele podia dramatizar como o Zezinho do gás. Com sua bateria podia ser um músico como os das bandas que se apresentavam no clube do Cruzeiro.
Suas experiências tiveram grande aceitação dentro do seu meio. Era elogiado por suas criações tanto pelos adultos quanto pelas crianças com as quais convivia e dividia as brincadeiras. Mas não era só com as crianças que Dim brincava, os adultos também participavam das brincadeiras, sua mãe ajudava nos campeonatos de futebol e seu avô contava histórias que alimentavam sua imaginação. E foi assim, brincando e se apropriando do universo ao seu alcance, que Dim criou seu próprio mundo e acabou se constituindo em um artista multifacetário de grande talento.
A passagem da infância a vida adulta não representou um corte em sua ludicidade. Mesmo passada a infância o lúdico permaneceu vivo na sua vida, norteando sua relação com o mundo, com as pessoas e as coisas. E hoje continua brincando de reinventar o que vê e de inventar o que imagina.
O apelo ao lúdico e a interação orienta suas criações, a novidade, no entanto, é uma marca de seu trabalho: utilizando os mais diversos materiais, como isopor, arame, ferro, alumínio, madeira - em grande parte recolhidos dos refugos urbanos- além de materiais industriais como a fibra de vidro e o poliéster, Dim está sempre surpreendendo. Sua vasta plasticidade, porém, o permite articular uma pluralidade imensa de formas, cores e movimentos, e, manter uma coerência na articulação do conjunto de sua obra que a torna inconfundível.
De inesgotável capacidade inventiva Dim brinca com a cor, com o espaço, e cria questões formais de elevada elaboração poética, onde exalta a subversão ao universo contemporâneo marcado pela lógica de mercado, e, propõe a transfiguração do cenário de relações instrumentais em uma realidade solidária e alegre. Dim acredita no brincar como forma de transfigurar a realidade. E toda sua obra gira em torno da ideia de uma vida com ludicidade, convivialidade e fruição da natureza.
A originalidade do seu trabalho foi tema da pesquisa intitulada “Dim, as artes de um Brincante”, 1999, realizada por Beatriz Muniz Freire, e publicada pela FUNART. É um dos temas do livro “Em nome do autor”, 2008, de Beth e Valfrido, Proposta Editorial-São Paulo, e do livro “Eu era assim: infância, cultura e consumismo”, 2009, do escritor Flavio Paiva, Cortez- São Paulo. Em 2017 foi lançado o Livro catálogo Dim Brinquedim, pela editora Armazém da Cultura, Fortaleza. Sua obra é referência para trabalhos e vivências educativas, e é abordada em pesquisas acadêmicas realizadas por pesquisadores de várias universidades brasileiras, e, em livros didáticos, publicados por diversas editoras de destaque nacional.
Dim Brinquedim, também, foi tema do Filme “Dim”, 2004, do cineasta Nirton Venancio, e, do Filme “ Brinquedim, brinquetu, brincamos nós”, 2011, de Jane Malaquias e Rui Ferreira, e, do filme documentário “DIM Brinquedim” 2014, do cineasta Luiz Carlos Lacerda.
No ano de 2013, Dim Brinquedim recebeu uma homenagem da Escola de Samba, acadêmicos do Cubango, de Niterói. O desfile da Escola trouxe para a Sapucaí um carro alegórico inspirado em sua obra. E, em 2019, a Escola de Samba União da Ilha do Governador, também, prestou uma homenagem a Dim, e levou para Sapucaí uma alegoria inspirada em seu trabalho.
O espaço que alberga a maior coleção da sua obra, o Museu Brinquedim, em Pindoretama, Ceará, recebe anualmente, milhares de visitantes.
Texto por Ângela Madeiro
Bibliografia
Freire, Beatriz Muniz. Dim: as artes de um brincante, Funarte, Rio de Janeiro-RJ 1999.
Paiva, Flávio. “Eu era assim: infância, cultura e consumismo”, Ed Cortez: São Paulo, 2009
Lima, Beth e Valfrido. “Em nome do autor = In name of author: craft artists from Brazil”, Proposta Editorial LTDA, São Paulo, 2008.